SUBER
Apesar da importância dos montados de sobreiro em Portugal, representando 21% da área florestal total, o primeiro modelo de crescimento e rendimento orientado para esta espécie, o modelo SUBER, data apenas de 1997. Este modelo foi desenvolvido, utilizando dados existentes, resultados publicados e conhecimentos empíricos sobre o montado de sobro, com o objectivo de conceber uma metodologia adequada para simular o desenvolvimento desta espécie para fins de gestão. Ao mesmo tempo, foram identificadas áreas de investigação para a melhoria do modelo. Devido às características particulares desta espécie, um modelo de crescimento e produção para montados de sobro, capaz de prever também a produção e a qualidade da cortiça, é mais complexo do que um modelo para estimar a produção de madeira. O facto de uma grande percentagem dos povoamentos serem irregulares e caracterizados por uma distribuição espacial heterogénea torna os modelos de árvore individual, em que o crescimento do povoamento é predito pela simulação conjunta do crescimento de cada árvore que o constitue, particularmente apelativos, pelo que o modelo SUBER foi concebido como um modelo de árvore individual. A partir de 1997, o Centro de Estudos Florestais da Universidade de Lisboa (até 2012, Universidade Técnica de Lisboa) tem vindo a trabalhar, com o apoio de várias associações de proprietários florestais, na melhoria da primeira versão do modelo SUBER. Esta investigação tem-se baseado na instalação e monitorização de parcelas permanentes e ensaios que têm originado grande quantidade de dados. Estes dados, que incluem dados das árvores e da cortiça, estão organizados na base de dados relacional SUBERDATA, sob gestão do grupo ForChange.
A estrutura da presente versão do modelo, o SUBER 5.0, mantém-se na linha da estrutura concebida para as versões anteriores, descrita em Tomé et al. (1998, 1999, 2004, 2005), e que considera os módulos de predição, de cálculo, de inicialização de povoamentos novos, de desbaste, de regeneração, de imputação de dados:
Módulo de predição - árvores
- curvas de classe de qualidade (Sánchez-Gonzáles et al. 2005)
- crescimento das árvores em diâmetro (Tomé et al. 2006)
- crescimento da cortiça (Almeida et al. 2010)
- evolução do índice de crescimento da cortiça (Tomé et al. 1998)
Módulo de cálculo
- relação hipsométrica (Paulo et al. 2011)
- peso da cortiça amadia para cortiças de qualquer idade (Paulo et al. 2010)
- peso da cortiça virgem em árvores virgens (Paulo et al. 2014)
- predição do diâmetro sem cortiça em árvores virgens (Paulo et al. 2014)
- diâmetro da copa (Paulo et al. 2015a)
- predição do volume do fuste e até um d de desponta de 7.5 cm (Paulo e Tomé 2006)
- predição da biomassa total e por componentes (Paulo e Tomé 2006)
Módulo de inicialização de novos povoamentos
- predição da produtividade a partir de fatores edáficos e climáticos (Paulo et al. 2015b)
- a inicialização de povoamentos novos é feita de acordo com o seguinte procedimento (não publicado): 1) simulação da distribuição de alturas quando a altura dominante atinge o valor de 3 m; 2) crescimento em altura até que a árvore atinge uma altura de 3 m; 3) predição do diâmetro de cada árvore com base na respetiva altura e na densidade do povoamento
Módulo de regeneração
- o utilizador tem que indicar qual o número de plantas por ha que quer regenerar (por plantação, por proteção de regeneração natural, neste momento o modelo não faz distinção) e o modelo gera este número de plantas com um procedimento idêntico ao que é utilizado para simular um novo povoamento
Módulo de desbaste
- A presente versão do modelo SUBER realiza os desbastes com base numa equação desenvolvida por Paulo e Tomé (2005) que permite simular a probabilidade de uma árvore ser desbastada (considerando um desbaste pelo baixo) em função da sua dimensão relativa, do peso do desbaste e da qualidade da cortiça
- O modelo inclui dois algoritmos, um para o desbaste de povoamentos regulares e outro para a simualção de povoamentos irregulares. No primeiro caso o desbaste é simualdo considerando o povaometo como um todo. As árvores são desbastadas de acordo com a sua probabilidade de desbaste até atingir a % de coberto pretendida. No segundo caso, as árvores são desbastadas por classe de diâmetro, sendo o número de árvores pretendido para cada classe definido de forma a que todas as classes de diâmetro tenham a mesma percentagem de coberto (distribuição de diâmetros em J invertido)
Módulo de imputação de dados
- O objectivo deste módulo é completar os dados medidos da ao nível da árvore. A informação mínima que o utilizador tem que fornecer é a localização do povoamentp (concelho), a área da parcela e os diâmetros das árvores. As restantes variáveis podem ser simuladas pelo modelo. Obviamente que a simulação será tanto mais realista quanto mais informação for medida. Por exemplo, se, num povoamento regular, a altura das árvores dominantes for medida, o índice de qualidade da estação será estimado de forma precisa. Se esta informação não for fornecida o modelo estima o índice de qualidade da estação com base no modelo de Paulo et al. (2015). Outro exemplo: caso não tenha sido realizado um inventário da qualidade da cortiça, o modelo atribui as características da cortiça de cada árvore com base na distribuição destas características (índice de crescimento da cortiça e qualidade) no concelho, calculada com base nos dados da base de dados SUBER DATA.
Referências:
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Tomé M, 2005. Demonstração da gestão do montado de sobro apoiada em inventário florestal e modelos de crescimento e produção. PROJECTO AGRO nº 81. Relatório Final – Relatório de Execução Material (Volume I). Publicações GIMREF RFP 1/2005. Universidade Técnica de Lisboa. Instituto Superior Agronomia. Centro de Estudos Florestais. Lisboa. 56 pp.