Grupo de Cientistas Europeus, que conta com Margarida Tomé (ISA, ULisboa), questiona resultados publicados.
florestas

Margarida Tomé (ISA, ULisboa) integra o grupo de cientistas europeus que levantam dúvidas sobre as conclusões do estudo Abrupt increase in harvested forest area over Europe after 2015 publicado na revista Nature.

O corte de áreas e árvores florestais está de facto a aumentar na Europa? Sim, mas não tanto como indicado pelo estudo publicado em julho na Nature.

O estudo Abrupt increase in harvested forest area over Europe after 2015, utilizou dados de satélite para avaliar a cobertura florestal e reclamou um aumento abrupto de 69% na área de floresta cortada na Europa a partir de 2016. Os autores, do European Commission’s Joint Research Centre (JRC), sugeriram que este aumento resultou da expansão dos mercados de madeira encorajada pelas políticas de bioeconomia e bioenergia da UE. A publicação desencadeou um aceso debate, tanto científico como político, uma vez que o Parlamento e o Conselho da UE estavam a discutir a Estratégia Florestal Pós-2020 da UE.

Numa resposta publicada na Nature, 30 cientistas de 13 países europeus encontraram factos que levantam dúvidas sobre as conclusões do estudo do JRI. Em Concerns about reported harvests in European forests, Palahí e colegas demonstram que as grandes mudanças nas áreas de floresta cortadas relatadas pelo JRC resultam de erros metodológicos. Estes erros estão relacionados com a melhoria da sensibilidade dos satélites durante o período de avaliação, bem como com as alterações nas florestas devidas a perturbações naturais - por exemplo, die-back e queda de árvores relacionados com secas e tempestades - sendo no estudo frequentemente atribuídos erroneamente à exploração madeireira.

Dr. Marc Palahí, Director do European Forest Institute (EFI), que liderou a resposta ao artigo publicado em julho, disse: "No futuro, a informação florestal deve ser avaliada com mais cuidado, tendo em conta uma grande variedade de questões e fatores metodológicos, antes de se tirarem conclusões apressadas. Isto requer uma maior colaboração, bem como abordagens científicas sólidas e comuns entre a Comissão Europeia e os Estados-Membros para permitir políticas relacionadas com as florestas mais bem informadas no contexto do Green Deal da UE". 

"Ao longo dos anos, estamos a ficar cada vez melhores na deteção de perdas de áreas florestais" disse o Dr. Ruben Valbuena, da Universidade de Bangor, que co-liderou o estudo. Um dos erros do estudo do JRC foi subestimar a forma como as imagens de satélite, e os métodos utilizados para as analisar, melhoraram ao longo dos períodos em que foram comparadas. "Os produtos obtidos a partir de imagens de satélite só podem ser utilizados sob protocolos rigorosos de avaliação de erros, e com uma melhor distinção entre desflorestação e outras causas de perda florestal", disse.

O Professor Gert-Jan Nabuurs da Universidade de Wageningen, um dos principais autores do IPCC, e que participou no estudo, comentou que "o corte de áreas e de árvores nas florestas da Europa aumentou nos últimos anos, mas apenas 6%, não os 69% reivindicados pelo estudo do JRC. Isto deve-se principalmente a uma recuperação económica moderada após a recessão de 2008-2012. O que é realmente impressionante são os níveis sem precedentes de perturbações naturais que afetaram as nossas florestas em muitas partes do continente nos últimos anos".

As implicações dos erros encontrados por Palahí e colegas são de relevância global, uma vez que muitos dos estudos realizados para apoiar os decisores políticos e a sociedade em geral sobre o estado das florestas mundiais são hoje em dia baseados na deteção remota. A análise de produtos baseados em imagens de satélite está a tornar-se fundamental, por exemplo, para compreender a extensão da desflorestação mundial, pelo que precisamos de métodos de teledeteção cientificamente robustos para a elaboração de políticas sólidas.

Palahí, M., Valbuena, R. et al. Concerns about reported harvests in European forests. Nature (2021). https://doi.org/10.1038/s41586-021-03292-x
Ceccherini, G., Duveiller, G., Grassi, G. et al. Abrupt increase in harvested forest area over Europe after 2015. Nature 583, 72–77 (2020). https://doi.org/10.1038/s41586-020-2438-y
 


Principais contactos para os media:

[PT]
Margarida Tomé 

Presidente do Conselho Científico do ISA | Centro de Estudos Florestais
Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa
 

Lista completa de autores: 

Marc Palahí (European Forest Institute, Joensuu, Finland), Ruben Valbuena (School of Natural Sciences, Bangor University, Bangor, UK), Cornelius Senf (Ecosystem Dynamics and Forest Management Group, Technical University of Munich, Germany), Nezha Acil (School of Geography, Earth and Environmental Sciences, University of Birmingham, Birmingham, UK; Birmingham Institute of Forest Research, University of Birmingham, Birmingham, UK), Thomas A. M. Pugh (School of Geography, Earth and Environmental Sciences, University of Birmingham, Birmingham, UK; Birmingham Institute of Forest Research, University of Birmingham, Birmingham, UK; Department of Physical Geography and Ecosystem Science, Lund University, Lund, Sweden)Jonathan Sadler (School of Geography, Earth and Environmental Sciences, University of Birmingham, Birmingham, UK; Birmingham Institute of Forest Research, University of Birmingham, Birmingham, UK), Rupert Seidl (Ecosystem Dynamics and Forest Management Group, Technical University of Munich, Germany), Peter Potapov (Department of Geographical Sciences, University of Maryland, College Park, MD, USA), Barry Gardiner (Institut Européen de la Forêt Cultivée, Cestas, France), Lauri Hetemäki (European Forest Institute, Joensuu, Finland), Gherardo Chirici (Dipartimento di Scienze e Tecnologie Agrarie, Alimentari, Ambientali e Forestali, Università degli Studi di Firenze, Florence, Italy), Saverio Francini (Dipartimento di Scienze e Tecnologie Agrarie, Alimentari, Ambientali e Forestali, Università degli Studi di Firenze, Florence, Italy; Dipartimento per l’Innovazione dei sistemi Biologici, Agroalimentari e Forestali, Università degli Studi della Tuscia, Viterbo, Italy), Tomáš Hlásny (Faculty of Forestry and Wood Sciences, Czech University of Life Sciences Prague, Prague, Czech Republic), Bas Jan Willem Lerink (Wageningen Environmental Research, Wageningen University and Research, Wageningen, The Netherlands), Håkan Olsson (Department of Forest Resource Management, Swedish University of Agricultural Sciences (SLU), Umeå, Sweden), José Ramón González Olabarria (Joint Research Unit CTFC - AGROTECNIO, Solsona, Spain), Davide Ascoli (Department of Agricultural, Forest and Food Sciences, University of Turin, Grugliasco, Italy), Antti Asikainen (Natural Resources Institute Finland, Joensuu, Finland), Jürgen Bauhus (Albert-Ludwigs-University of Freiburg, Freiburg, Germany), Göran Berndes (Department of Space, Earth and Environment, Chalmers University of Technology, Gothenburg, Sweden), Janis Donis (Latvian State Forest Research Institute Silava, Salaspils, Latvia), Jonas Fridman (Department of Forest Resource Management, Swedish University of Agricultural Sciences (SLU), Umeå, Sweden), Marc Hanewinkel (Albert-Ludwigs-University of Freiburg, Freiburg, Germany), Hervé Jactel (INRAE, University of Bordeaux, BIOGECO, Cestas, France), Marcus Lindner (European Forest Institute, Bonn, Germany), Marco Marchetti (University of Molise, Campobasso, Italy), Róbert Marušák (Faculty of Forestry and Wood Sciences, Czech University of Life Sciences Prague, Prague, Czech Republic), Douglas Sheil (Forest Ecology and Forest Management Group, Wageningen University and Research, Wageningen, The Netherlands), Margarida Tomé  (Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Lisbon, Portugal), Antoni Trasobares (Forest Science and Technology Centre of Catalonia, CTFC, Solsona, Spain), Pieter Johannes Verkerk (European Forest Institute, Joensuu, Finland), Minna Korhonen (European Forest Institute, Joensuu, Finland) & Gert-Jan Nabuurs (Wageningen Environmental Research, Wageningen University and Research, Wageningen, The Netherlands; Forest Ecology and Forest Management Group, Wageningen University and Research, Wageningen, The Netherlands).