Conectividade hidrológica é determinante para a conservação da diversidade genética em bosques ribeirinhos
Foto: Salgueiral © Patricia Rodríguez González
A conservação da diversidade genética em bosques ribeirinhos esta determinada em grande medida pela conetividade entre populações ao longo das redes hidrográficas.
O resultado surge de um estudo liderado por investigadores do Instituto Superior de Agronomia, publicado dia 1 de Maio de 2019, na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
Este estudo abordou por primeira vez os padrões espaciais de diversidade genética em bosques ribeirinhos dominados pela espécie endémica ibérica Salix salviifolia Brot. (borrazeira-branca), da família Salicaceae, referida no Anexo II da Diretiva Habitats. A quantificação da diversidade genética de espécies ribeirinhas é fundamental para podermos prever as possibilidades de sobreviverem às alterações globais, manterem o seu papel como espécies chave, regulando os processos ecológicos fluviais e fornecendo serviços de ecossistema à sociedade. No entanto, as abordagens utilizadas para modelar as respostas dos bosques ribeirinhos não se ajustam totalmente às estruturas dendríticas que formam as redes hidrográficas, o que dificulta a gestão destes ecossistemas ameaçados.
A aplicação de uma inovadora metodologia de análise espacial (os chamados spatial stream-network models, que foram pela primeira vez aplicados à vegetação ribeirinha), permitiu integrar a arquitetura, topologia e direccionalidade das redes hidrográficas com fatores ecológicos para quantificar o efeito de múltiplos fatores na quantidade e distribuição da diversidade genética. Os fatores hidrológicos explicaram a distribuição da diversidade genética entre populações conectadas principalmente através de processos de hidrocoria, numa escala espacial intermedia, e, através da polinização anemófila e entomófila entre populações mais distantes. A maior termicidade e a seca de verão foram relacionadas com uma maior endogamia e diminuição da diversidade genética, sugerindo que o aumento da aridez poderá interromper a conectividade hidrológica entre populações ribeirinhas.
O estudo foi liderado pela investigadora Patricia María Rodríguez González, do Centro de Estudos Florestais, que trabalhou em colaboração com investigadores do Institute of Integrative Biology (University of Liverpool) e CIBIO-InBIO, do CITAB (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), do INIAV I.P., do ICAAM (Universidade de Évora) e do cE3c (Universidade de Lisboa).
O trabalho de campo incidiu sobre formações espontâneas de Salix salviifolia distribuídas por diversos rios pertencentes a bacias hidrográficas do Norte, Centro e Sul de Portugal, abrangendo a variação latitudinal da espécie. O estudo teve apoio do Fundo EDP para a Biodiversidade, do Programa Interreg-SUDOE, e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Patricia María Rodríguez González é financiada pelo Programa Investigador FCT.
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