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História do Herbário
História do Herbário do Instituto Superior de Agronomia
por João de Amaral Franco,
Prof. Catedrático do Instituto Superior de Agronomia
O Instituto Superior de Agronomia foi criado por decreto de 12 de dezembro de 1910 do então Ministro do Fomento, Dr. Manuel de Brito Camacho, tendo sido segregado do antigo Instituto de Agronomia e Veterinária, na data extinto. O novo Instituto foi instalado em edifício próprio, especialmente construído para o efeito, na Tapada da Ajuda, em Lisboa, situando-se nesta no cimo duma elevação a SE da antiga Mata do Zambujal, actualmente transformada em zona ajardinada, com diversas construções posteriores a 1950.
No primeiro andar da asa noroeste do Instituto ficou, desde logo, instalada a Secção de Botânica. Esta Secção compreendia uma entrada, dois gabinetes anexos (o da esquerda, para os docentes e o da direita, para o contínuo e arrumações), uma sala de aulas práticas com a respectiva bancada (voltada a Nascente), um laboratório de Fisiologia Vegetal (voltado a Poente), um pequeno laboratório para as preparações de Citologia e uma sala maior, ao fundo e à esquerda, que fora destinada ao herbário, sala esta com 7,5m de comprimento por 5m de largura.
Nos primeiros anos de sua existência, desde o ano lectivo 1917/18, sendo ainda catedrático o Prof. D. António Xavier Pereira Coutinho (jubilado em 11 de Junho de 1921), o herbário era bastante reduzido e compreendia, ao todo, apenas perto de 3800 espécimenes da flora vascular espontânea portuguesa e 658 de plantas cultivadas como ornamentais, todos colhidos entre 1857 e 1906, e provenientes dos herbários dos extintos Instituto Geral de Agricultura (1864-1886) e Instituto de Agronomia e Veterinária (1886-1910). Das espécies espontâneas, além de vários duplicados da «Flora Lusitanica» do Herbarium Horti Botanici Conimbricensis e Herbário do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, e alguns exsiccata da Sociedade Broteriana, os colectores que então mais contribuíram foram Jaime Batalha Reis (517 espécimes), que regeu Botânica 1872 a 1883, Filipe Eduardo de Almeida Figueiredo (327 espécimes), que regeu Botânica de 1872 a 1883, Filipe Eduardo de Almeida Figueiredo (327 espécimes), que regeu Botânica de 1887 a 1891, Herbário de Inspecção dos Serviços Florestais (293 espécimes) e António Xavier Pereira Coutinho (142 espécimes), que sucedeu a Filipe de Figueiredo na regência de Botânica. Quanto ao número de espécimes de Pereira Coutinho, pode parecer estranha a sua escassez, tanto mais que é do conhecimento público a grande actividade deste ilustre Professor nos estudos da flora vascular portuguesa continental. Tal porém justifica-se uma vez que, a partir de 1890, se dedicou com todo o zelo à Secção de Botânica da então Escola Polytechnica de Lisboa (actualmente, Faculdade de Ciências de Lisboa), em cujo herbário português se encontram praticamente todas as suas colheitas, incluindo as do herbário particular, legado àquela Faculdade.
Como acima foi dito, as últimas colheitas entradas no herbário do Instituto (sigla LISI) no tempo de Pereira Coutinho datam de 1906. Mais nenhumas foram efectuadas até que novo ciclo de actividade foi iniciado em 1925, com a comparticipação do regente agrícola António Dominguez Passos e do contínuo Agostinho Teodoro D'Assunção Veneno, actividade esta que nunca mais parou, antes, pelo contrário, se exaltou com a entrada na Secção do Eng.º Agr. João de Carvalho e Vasconcellos, em fins de 1926 como preparador a título gracioso (o seu lugar era na Cadeira de Silvicultura, desde 1922) em acumulação, depois professor auxiliar de Botânica, contratado em 1932 e passado a definitivo em 1934, e por último professor catedrático da mesma disciplina (1944-1967), em que se jubilou. No entanto, é de salientar que, entre 1925 e 1926, apenas foram colhidos 172 espécimes (dos quais 105 pelo referido regente agrícola e 46 pelo contínuo Agostinho Veneno).
Entre 1927 e 1940, apesar do movimento do herbário ter sido ainda um tanto modesto, reduzido às colheitas individuais do Prof. Vasconcelos e de alguns alunos (sobretudo finalistas), colheram-se 3849 espécimes de plantas espontâneas, sensivelmente o mesmo número que fora colhido nos dez quinquénios de 1857 a 1906 nos antigos Institutos. O resumo das colheitas será:
- 1927 - 196 espécimes (incluindo 149 de J. de Vasconcellos, 28de A. Canavarro e J. de Vasconcellos, 11 de A. Veneno e 5 de M. D'Azevedo Gomes).
- 1928 - 206 espécimes (incluindo 80 de C. Mendes, 62 de J. de Vasconcellos, 36 de A. Veneno, 11 de A. Duarte e 5 de J. Botelho da Costa).
- 1929 - 393 espécimes (incluindo 200 de J. de Vasconcellos, 36 de A. Veneno, 11 de A. Duarte e 5 de J. Botelho da Costa).
- 1929 - 393 espécimes (incluindo 200 de J. de Vasconcellos, 145 de M. D'Azevedo Gomes e L. Mercês de Mello, 15 de A. Duarte, 14 de A. Veneno e 11 de P. Bello).
- 1930 - 286 espécimes (incluindo 108 de F. T. P. Xavier de Basto, 48 de T. Tavares de Sousa, 43 de J. de Vasconcelos, 27 de J. Nunes de Sousa, 24 de J. G. P. Vaz de Miranda e 14 de F. Raposo).
- 1931 - 43 espécimes (incluindo 23 de J. de Vasconcellos, 10 de José Tomás Oom, 4 de A. R. Pinto da Silva e 2 de A. Veneno).
- 1932 - 128 espécimes (incluindo 35 de J. de Vasconcellos, 35 de A. R. Pinto da Silva, 14 de J. M. de Carvalho, 11 de A. Galamba de Oliveira e 9 de M. D'Azevedo Gomes).
- 1933 - 159 espécimes 7incluindo 78 de T. Tavares de Sousa, 43 de A. R. Pinto da Silva, 30 de Q. Gonçalves e 3 de A. Veneno).
- 1934 - 200 espécimes (incluindo 113 de A. R. Pinto da Silva, 49 de J. de Vasconcellos, 16 de T. Tavares de Sousa, 6 de A. Veneno e 4 de A. Gonçalves).
- 1935 - 46 espécimes (incluindo 16 de A. R. Pinto da Silva, 7 de J. de Vasconcellos, 4 de F. Avillez, 3 de J. G. P. Vaz Miranda e 3 de A. Veneno).
- 1936 - 616 espécimes (incluindo 367 de J. de Vasconcellos, 172 de A. R. Pinto da Silva, 28 de J. Lourenço, 19 de A. L. Branquinho D'Oliveira, 10 de J. D'Orey, 8 de F. R. Beija e 5 de C. Campos).
- 1937 - 80 espécimes (incluindo 51 de J. Alves, 18 de J. de Vasconcellos e A. R. Pinto da SIlva, e 6 de A. Monteiro Torres).
- 1938 - 540 espécimes (incluindo 191 de A. Monteiro Torres, 167 de J. Gomes Pedro, 83 de J. de Vasconcellos, 32 de Oliveira Soares, 29 de V. Faria da Fonseca e 24 de E. Campos D'Andrada).
- 1939 - 345 espécimes (incluindo 152 de J. Gomes Pedro, 88 de C. M. Baeta Neves, 20 de F. Rodrigues, 17 de J. Botelho da Costa e A. Sardinha D'Oliveira, 16 de J. Pacheco Torres e J. Gomes Pedro, 12 de M. Soares de Albergaria, 8 de J. de Vasconcellos e 8 de F. Soares Franco).
- 1940 - 611 espécimes (incluindo 249 de J. de Vasconcellos, 73 de M. Myre, 71 de J. Gomes Pedro, 65 de A. Grave Costa, 36 de J. da Vasconcellos e A. Monteiro Torres, 30 de Nestor Mendes, 24 de Cunha e Sousa, 20 de Silva Pinto, 13 de R. Marques de Sousa, 8 de F. Rodrigues e 7 de R. C. Monteiro Gomes).
Em 1940, o A., ainda secundanista, procedeu, a convite do Prof. Vasconcelos, à Organização dum herbário de plantas ornamentais cultivadas em Portugal, com material já existente e procedente de novas colheitas para o efeito. Também, por esta ocasião, os espécimes de plantas de outros países foram arrumados em herbário próprio.
A partir de 1941, com a iniciação dos estudos florísticos da Região Duriense, sob a égide do Institu do Vinho do Porto, orientados pelo Prof. Vasconcellos e pelo Dr. Francisco D'Ascenção Mendonça e com a colaboração dos finalistas de Biologia (José Pinto Lopes) e de Agronomia (José Gomes Pedro, M. Myre, L. A. Grandvaux Barbosa e F. J. Garcia), estudos estes decorridos em 22 campanhas (1941 a 1946), muitas delas com grandes dificuldades de deslocação (estava-se em plena II Guerra Mundial, com grandes restrições de combustível), vigoroso incremento foi dado ao herbário, com a aquisição de perto de 8000 espécimes. Simultaneamente, outro impulso foi dado com a feitura de relatórios finais de curso versando temas de florística que chegaram a estender-se a 117 concelhos diferentes do País, localizados a Norte a Sul e de Poente a Nascente. As herborizações, que serviram de base a estes relatórios finais de curso, foram realizadas entre 1939 e 1973, não se tendo efectuado mais posteriormente por alterações das normas de conclusão de curso.
A partir de 1950, a colheita de elementos para trabalhos em curso no Gabinete, orientados pelo Prof. Vasconcellos ou pelo A., ou por ambos, quer pormenorizando a distribuição e variação das nossas espécies lenhosas indígenas ou de há muito cultivadas florestalmente quer inventariando infestantes de arrozais e outras terras de cultivo, contribuiu também para o enriquecimento das mesmas colecções.
O movimento do herbário, tornou-se de tal modo intenso que, na década de 50, a Secção teve que ser toda remodelada de forma a poderem ser devidamente arquivados e conservados os espécimes e a poder haver condições satisfatórias para o seu estudo comparativo, ou simultaneamente por vários investigadores. Esta remodelação modificou por completo a parte central da Secção de Botânica, desaparecendo a antiga sala de aulas práticas e a de Fisiologia Vegetal, para dar lugar a um novo e então espaçoso (agora já com sinstomas de insuficiência) herbário em dois pisos, com a parte central vazia em altura, com duas grandes mesas para nelas se estender à vontade o material em estudo ou para comparação. As restantes divisões, excepto o antigo gabinete dos docentes, foram também divididas em altura, obtendo-se assim o dobro do espaço útil e quatro novod gabinetes no piso de cima, destinados a investigadores e assistentes. O antigo gabinete do contínuo, á entrada à direita, foi também remodelado e destinado ao professor de Botânica Sistemática e Fitogeografia, encarregado simultaneamente da direcção do herbário.
Em junho de 1968, o A. e a investigadora Lic.ª Maria da Luz da Rocha Afonso iniciaram o estudo da distribuição das espécies espontâneas, trabalho que tem vindo a fornecer grande número de exemplares herborizados, nos primeiros anos sobretudo com as colheitas do Eng.º Agr. J. P. Horta Correia, no Algarve e Baixo Alentejo, Eng.º Silv. José da Silva Melo, na parte norte do distrito de Viseu, e alunos finalistas do Instituto, Ana Maria Marcos e Celina Almeida (distrito de Bragança), Maria Teresa de Vasconcelos e Nazaré Oliveira Filipe (distritos de Portalegre e Castelo Branco), Hugo Santos Raposo (distritos de Leiria e Santarém) e António Leitão (distrito de Beja).
Os estudos de Herbologia, iniciados em 1975 sob a orientação do Doutor Ilídio Rosário dos Santos Moreira, com a colaboração do herbário do Instituto, têm também contribuido para a entrada de grande número de espécimes.
Outros trabalhos, de âmbito mais restrito e relacionados sobretudo com a protecção à Natureza, como o do Sapal de Castro Marim a cargo do Assistente Eng.º Agr. Mário Fernandes Lousã, o da Serra de Aire e Candeeiros e o do Paul de Boquilobo, elaborados pelo mesmo Assistente e pela naturalista Eng. Agr. Maria Dalila do Espírito Santo, têm igualmente servido para ampliar as colecções existentes.
Em virtude de todas estas colheitas, o herbário português conta actualmente com cerca de 60000 espécimes.
Desde 1945, nova secção foi criada com o herbário privativo dos Açores, em grande maioria vindo a ser baseado nas colheitas do Eng.º Silv. Ilídio Botelho Gonçalves que as iniciou em 1962 e, desde sempre, tem mostrado a maior dedicação, interesse a saber na flora do arquipélago, batendo sistematicamente todas as ilhas. Sem qualquer dúvida, pode afirmar-se que este herbário é presentemente a melhor colecção de flora açórica existente no Continente, com cerca de 8000 espécimes.
Uma vez que o A. foi «Regional Advisor» da Flora Europaea para Portugal e Açores, com a colaboração da Lic.ª Maria da Luz da Rocha Afonso, tanto o herbário português como o açórico foram revistos e actualizados à medida que os manuscritos dos diferentes géneros eram estudados, procedendo-se, após a publicaçãode cada volume, às correcções de hierarquia taxinómica e de nomenclatura finalmente aceites.
O herbário das plantas cultivadas como ornamentais voltou a ser aumentado, sobretudo a partir de 1939, com colheitas principalmente do Prof. Vasconcellos, J. Gomes Pedro, J. D'Orey, Weber D'Oliveira, o A., Carlos António da Costa, Albino de Carvalho e Abel Agapito de Freitas. De 1930 para cá, conta com mais 4400 espécimes.
O herbário das plantas estrangeiras, iniciado em 1940 como atrás já referido, compreende colecções norte-americanas, francesas e centro-europeias do fim do século passado, e outras mais recentes (a partir de 1950) de colheitas feitas em Espanha, Dinamarca, Alemanha Oriental, Alpes, Itália e Creta, quer pelo Prof. Vasconcellos (Espanha), quer pelo A. quer ainda pela Lic.ª Maria da Luz da Rocha Afonso.
Da Madeira, há um pequeno herbário organizado sobretudo pelo Eng.º Silv. José Maria de Carvalho em 1943, e algumas colheitas dos anos 60 do A. e da Lic.ª Maria da Luz da Rocha Afonso.
Em separado, está um pequeno herbário com representação das variedades culturais de espécies dos géneros Avena L., Oryza L. e Triticum L., organizado pelo Prof. J. de Vasconcellos e mais recentemente um de cultivares de Lycopersicon esculentum Miller, preparado pela naturalista Eng. Agr. Maria Teresa de Vasconcelos.
Cada uma das cinco secções (herbário português, herbário açórico, herbário madeirense, herbário de plantas cultivadas ornamentais e herbário de plantas estrangeiras) do Herbário do Instituto (LISI) está arrumada, quanto a famílias botânicas, pelo sistema Engler e, em cada família, os géneros, as espécies e os táxones infraspecíficos por ordem alfabética, a fim de facilitar as buscas.
Para atender ao actual movimento, o herbário do Instituto Superior de Agronomia tem tido a colaboração de uma investigadora, duas naturalistas e dois colectores, além do Professor de Botânica Sistemática e Fitogeografia, a quem cabe a responsabilidade de orientação do serviço, e de dois assistentes vocacionados para o ramo. Como os estudos do herbário estão integrados na Linha 2 do Centro de Botânica Aplicada à Agricultura da Universidade Técnica de Lisboa, têm sido contratados como tarefeiros alguns alunos para colaborar na preparação e catalogação do material herborizado.
O desenvolvimento de investigação na área de Herbologia, que por incremento e sugestão do Prof. Pedro Amaro passou a ser coordenada no ISA, a partir de 1975 pelo Prof. Ilídio Moreira, enriqueceram a colecção em plantas vulgarmente designadas por infestantes, geralmente mal representadas nos Herbários.
A importância que se tem dado nos últimos 20 anos aos aspectos de conservação dos recursos florísticos com incremento de estudos de flora em áreas a proteger e estudos de impacte ambiental e de ordenamento do território foi outro dos factores que levou ao aumento de colheitas, contando a colecção das plantas vasculares portuguesas, em 1980, com cerca de 60000 espécimes.
Um grande avanço foi dado ao Herbário com as colheitas efectuadas pelo Prof. João do Amaral Franco e, mais tarde, também pela Invª. Maria da Luz Rocha Afonso, com os estudos para a "Nova Flora de Portugal". Todos os holotypus destes classificadores encontram-se aqui arquivados.
A ultima contagem feita para o index Herbariorum em 1990 aponta para 96500 exemplares, no total do material arquivado, número que reflecte bem o trabalho de colheita efectuado pelos actuais investigadores da Secção de Fitoecologia e Herbologia.