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COORDENAÇÃO: Centro de Investigação em Biodiversidade de Recursos Genéticos (CIBIO/ICETA-Porto/UP).

EQUIPA CEABN: Inês Catry, Francisco Moreira, Rui Morgado.

OUTRAS INSTITUIÇÕES: Centro de Estudos Florestais (CEF/ISA/UTL), Imperial College London (ICL), University of Vienna - Department of Conservation Biology, Vegetation & Landscape Ecology (UNIVIE).

Os efeitos de orla estão entre os processos chave que afectam espécies e comunidades em paisagens fragmentadas, determinando padrões espaciais de riqueza, composição e abundância específica. Este tema tem sido intensamente investigado, permitindo demonstrar que os efeitos de orla são próprios de cada espécie, havendo contudo uma considerável variação intraspecífica, normalmente relacionada com factores como as características da orla e a estrutura da paisagem. Estas observações estão de acordo com estudos recentes de ecologia metapopulacional, que revelaram variações intraspecíficas na percepção dos atributos das manchas de habitat e da matriz em função das características da paisagem, levando ao desenvolvimento do conceito de escalonamento ecológico dos padrões e processos de paisagem. Este enquadramento conceptual também pode ser adequado para abordar o tema da variação ecológica dos efeitos de orla, existindo contudo uma insuficiência de ferramentas quantitativas para descrever este fenómeno, bem como um fraco conhecimento sobre os mecanismos que determinam a variação das respostas à orla em função doutras variáveis ecológicas. O conhecimento limitado de como e porquê os efeitos de orla são modificados por outras variáveis, constitui um obstáculo à extrapolação das respostas locais para os modelos de paisagem mas, também para prever as consequências das alterações do uso do solo na persistência de espécies/comunidades em meios fragmentados.

O projecto examinou estas questões através da combinação de abordagens observacionais, experimentais e modelação ecológica, analisando como e porquê as respostas às orlas florestais de aves estepárias são ecologicamente escalonadas. Numa primeira fase, o estudo desenvolveu funções de resposta à orla escalonadas ecologicamente. Estas funções constituiram a principal ferramenta estatística no teste da hipótese de que a variação intraspecífica nas respostas às orlas é devida ao efeito de variáveis locais (tipo de orla, altura da vegetação) e de paisagem (dimensão média das manchas). Esta componente do projecto envolveu a análise das respostas às orlas pela mesma espécie em paisagens com diferentes padrões e histórias de fragmentação, analisando a consistência e transferibilidade dos modelos de resposta às orlas. Seguidamente o projecto analisou alguns mecanismos potenciais que podem estar subjacentes à presença de escalonamento ecológico dos efeitos de orla, nomeadamente: i) variação do risco de predação; ii) variação da disponibilidade alimentar. O estudo também combinou informação de usos do solo com as funções de resposta às orlas estimadas à escala local, para prever as consequências de diferentes cenários de fragmentação na abundância e distribuição de espécies.

O projecto envolveu sete tarefas:

(i) Desenvolvimento de funções matemáticas de resposta às orlas escalonadas ecologicamente;

(ii) Avaliação de respostas às orlas escalonadas ecologicamente em diferentes paisagens;

(iii) Teste do efeito das orlas na variação do risco de predação;

(iv) Teste do efeito das orlas na variação da distribuição dos recursos alimentares;

(v) modelação das respostas das aves às orlas em função do risco de predação e da disponibilidade alimentar;

(vi) Extrapolação dos efeitos locais de orla para a escala da paisagem;

(vii) Alargamento dos modelos de paisagem das aves especialistas em meios abertos à escala biogeográfica.

A tarefa 1 serviu para desenvolver as abordagens quantitativas necessárias para analisar os dados recolhidos nas tarefas 2-4, e para prever as consequências à escala da paisagem dos efeitos de orla (6), mas também colocá-los num cenário macro-espacial (7). A tarefa 2 foi usada para descrever a variação intraspecífica, analisando-a em termos dos efeitos de variáveis locais e paisagem. As tarefas 3-4 testaram diferentes mecanismos que podem afectar a variação intraspecífica nas respostas às orlas. A tarefa 5 serviu para integração da informação recolhida nas tarefas anteriores.

Este estudo produziu informação científica inovadora sobre a ecologia da fragmentação, uma vez que:

i) são ainda incipientes as bases conceptuais e as ferramentas quantitativas para analisar a variação intraspecífica na resposta às orlas;

ii) poucos estudos quantificaram a forma como a resposta às orlas varia em função dos contextos de paisagem;

iii) sabe-se pouco sobre os mecanismos subjacentes à variação intraspecífica nas respostas às orlas em relação a características locais e da paisagem; 

iv) são poucas as tentativas para prever a forma como os efeitos de orla locais podem determinar variações de abundância e distribuição de espécies em função de cenários alternativos de alterações da paisagem.

O projecto também tem implicações aplicadas, fornecendo informação necessária para a conservação da biodiversidade em paisagens fragmentadas, sobretudo contribuindo para o planeamento de paisagens agrícolas, as quais estão a ser ameaçadas por processos de abandono e florestação.