COORDENAÇÃO: Joaquim Sande Silva (CEABN InBIO).
EQUIPA CEABN: Ana Águas, Ernesto Deus, Filipe Xavier Catry, Francisco Moreira, Hugo Matias, Joaquim Sande Silva, Miguel Bugalho.
OUTRAS INSTITUIÇÕES: Altri Florestal SA, Centro de Ecologia Funcional (CFE/FCTUC).
O eucalipto comum (Eucalyptus globulus Labill.) é uma espécie de crescimento rápido oriunda da Austrália. Esta espécie ocupa cerca de 23% (740.000ha) da floresta portuguesa. As plantações são exploradas em regime de talhadia, em rotações de 10-12 anos. Estas plantações abastecem a indústria de celulose, um setor estratégico da economia nacional.
A espécie encontra-se bem adaptada às condições ecológicas do Portugal continental, alcançando uma produtividade acima de 20m3/ha/ano de madeira em boas estações. Contudo esta adaptação tem outras implicações, pois a espécie está a naturalizar-se. A regeneração de plântulas de eucalipto ocorre em dois tipos principais de situações:
-Em plantações ativamente geridas e sua bordadura;
-Dentro e ao redor de povoamentos de eucalipto não geridos, frequentemente abandonados, especialmente após fogo.
O primeiro aspeto tem implicações económicas, devido aos custos adicionais da remoção da regeneração espontânea que cresce nas entre-linhas de plantação e no seu redor. Este problema tem repercussões tanto para os proprietários individuais como para as empresas de celulose, responsáveis por cerca de 1/3 da área florestada com eucalipto. As entidades que gerem as bermas das estradas e as áreas sob as linhas de transporte de energia também são afetadas, pois a regeneração seminal também ocorre aí.
O segundo aspeto tem importantes consequências ecológicas, uma vez que a regeneração cresce rapidamente e pode dominar facilmente as comunidades de plantas nativas em fases iniciais da sucessão ecológica após o abandono das terras. O abandono das plantações ocorre principalmente após o último corte ou após incêndio, revelando falta de consciencialização dos proprietários, que inadvertidamente contribuem para o aumento do risco de incêndio destas áreas. Uma das poucas referências sobre este assunto menciona densidades globais de 0,88±0.98 plantas/m2 em 72% de 39 parcelas amostradas na região Centro de Portugal.
Apesar da importância da questão, a literatura sobre este tema é escassa. Esta proposta de investigação procurou colmatar esta lacuna, utilizando uma abordagem integrada e multi-escala que procura perceber o processo de naturalização do eucalipto em Portugal e respectivos mecanismos. As tarefas estão interligadas; cada tarefa utilizou os resultados da precedente para seleção dos locais estudo, numa sequência de escalas de abordagem progressivamente mais finas.
A tarefa 1 consistiu num levantamento da regeneração de eucalipto, à escala regional, para elaboração de um mapa do potencial de regeneração em Portugal, através da adaptação de uma abordagem anteriormente utilizada pela equipa do ISA. O modelo relacionou o potencial de recrutamento com variáveis ambientais. Este mapa apoiou a elaboração de relatórios de avaliação de impacto ambiental, obrigatórios por lei para grandes plantações de eucalipto em Portugal.
A tarefa 2 consistiu em levantamentos à escala do povoamento, para relacionar a regeneração natural, com características do povoamento, como a idade, a rotação e as práticas culturais. Os resultados contribuiram para a previsão e controlo da regeneração natural, por exemplo através de formas de exploração alternativas. Esta tarefa replicou um estudo semelhante realizado na Austrália, permitindo a comparação de duas situações geográfica e ecologicamente distintas. Este estudo foi supervisionado pelo Professor Bradley Potts (Univ Tasmânia), que integrou o projeto como consultor.
A tarefa 3 decorreu à escala local, em áreas ardidas e não ardidas, ao longo de transetos permanentes, perpendiculares à bordadura da plantação. Caracterizou a queda de sementes, o banco de sementes e a regeneração natural.
A tarefa 4 consistiu no estudo dos micro-sítios de regeneração. Decorreu em áreas ardidas e não ardidas, na proximidade de pontos aleatórios com e sem eucaliptos espontâneos.
As tarefas 3 e 4 permitiram compreender o processo de naturalização e contribuiram para melhorias nas práticas de gestão das plantações, nas bermas de estradas e sob as linhas de transporte de energia, levando à diminuição dos riscos de incêndio.
Os dados obtidos nas tarefas 1-4 foram analisados na tarefa 5. A tarefa 6 fez a divulgação de resultados através de uma brochura de caráter técnico e de publicações científicas.
O trabalho de investigação foi dirigido pelo ISA e UC, incluindo especialistas em ecologia do fogo e em ecologia de sementes de espécies exóticas. Uma doutoranda do ISA integrou a equipa do projeto, trabalhando quase em exclusividade. Os gestores florestais estão representados pela Altri, empresa de celulose. A Altri teve um papel preponderante no projeto, suprindo grande parte das necessidades logísticas, oferecendo ampla experiência na cultura do eucalipto e disponibilizando uma base de dados detalhada, com informações sobre os locais e os povoamentos de todas as suas plantações.