Que espécie arbórea fixa mais carbono?

Para responder a esta importante questão, um consórcio internacional de cientistas, coordenado pelo INRAE e Bordeaux Sciences Agro, estudou o crescimento de 223 espécies arbóreas plantadas em 160 florestas experimentais, em diferentes partes do mundo. Observaram que espécies conservadoras, que são as mais eficientes na conservação de seus recursos (nutrientes, água, energia), geralmente crescem mais rápido em florestas. Estas descobertas, que se encontram disponíveis para gestores florestais, foram publicadas a 19 de março de 2025, na revista Nature, destacam o papel central das condições locais no crescimento das árvores.

As florestas fornecem muitos serviços do ecossistema, incluindo regulação do microclima, preservação da biodiversidade, purificação do ar e da água, e proteção do solo. Juntamente com os oceanos, elas são um dos dois sumidouros de carbono mais importantes, devido à sua capacidade de armazenar carbono no solo e na biomassa das árvores. Como tal, promover espécies de crescimento rápido poderia fortalecer os esforços para mitigar as alterações climáticas. Isto levanta uma questão chave para os gestores florestais: que espécies apresentam maior potencial para a mitigação?

O INRAE e Bordeaux Sciences Agro conduziram um estudo para identificar as características das árvores (também conhecidas como atributos funcionais) que favorecem o crescimento e, assim, o sequestro de CO₂ na biomassa. Os investigadores coordenaram um consórcio internacional envolvendo o ONF, o CNPF e o CEF/ISA, para estudar o crescimento de 223 espécies de árvores plantadas em 160 florestas experimentais ao redor do mundo (Europa Ocidental, Estados Unidos, Brasil, Etiópia, Camarões, Sudeste Asiático, entre outros). As espécies consideram-se representativas de todos os principais biomas florestais.

Teoria prevalente: espécies aquisitivas crescem rapidamente

Estudos anteriores mostraram que, sob condições controladas (frequentemente ensaios em estufa), espécies capazes de adquirir recursos eficientemente (luz, água, nutrientes) geralmente crescem rapidamente (por exemplo, áceres, choupos, carvalho roble, carvalho branco). Estas espécies aquisitivas possuem características que as ajudam a maximizar o uso de recursos (grande área foliar específica, elevado comprimento específico de raiz) e melhorar sua capacidade de converter esses recursos em biomassa (alta capacidade fotossintética máxima, alta concentração de azoto nas folhas). Enquanto isso, espécies que são mais eficientes na conservação dos seus recursos internos (nutrientes, água, energia) do que na extração de recursos externos são conhecidas como espécies conservadoras (por exemplo, abetos, carvalho italiano, azinheira) e são assumidas como crescendo mais lentamente.

Nova perceção: espécies conservadoras crescem mais rapido em florestas

No entanto, sob condições reais em florestas boreais e temperadas, os investigadores mostraram que espécies conservadoras geralmente crescem mais rápido do que espécies aquisitivas. Esta descoberta pode ser explicada pelo fato de que estas florestas estão geralmente localizadas em áreas com condições de crescimento desfavoráveis (baixa fertilidade do solo, clima frio ou seco), o que dá uma vantagem às espécies conservadoras, pois elas são melhores na gestão de stress e de recursos limitados. Em florestas tropicais, onde o clima é potencialmente mais favorável ao crescimento das plantas, os dois tipos de espécies de árvores não mostram diferenças, em média.

O papel-chave do clima local e do solo na escolha das espécies

Além das tendências gerais na escala dos principais biomas, os investigadores elucidaram sobre o papel decisivo das condições locais. As condições de crescimento nalgumas situações são suficientemente favoráveis para que espécies aquisitivas cresçam mais rápido do que espécies conservadoras. Mas o essencial é garantir que as espécies estejam adaptadas ao seu ambiente local. Isso significa que, em climas favoráveis e solos férteis, espécies aquisitivas como áceres e choupos crescerão mais rápido e, portanto, fixarão mais carbono do que espécies conservadoras como azinheiras, carvalhos pubescentes e muitas espécies de pinheiros. Por outro lado, em climas desfavoráveis e solos pobres, espécies conservadoras terão o maior potencial para acumular carbono na biomassa. Este estudo recente proporciona aos gestores florestais mais uma ferramenta no esforço de mitigação das alterações climáticas.

Referência:

Augusto L., Borelle R., Boča A. et al. (2025). Widespread slow growth of acquisitive tree species. Nature, DOI: https://doi.org/10.1038/s41586-025-08692-x

URL: https://www.nature.com/articles/s41586-025-08692-x

Contactos:

Joint Research Unit for Soil–Plant–Atmosphere Interactions

Laurent Augusto (Autor correspondente) – laurent.augusto@inrae.fr

Marie Charru – marie.charru@agro-bordeaux.fr

Pelo CEF/ISA

António Correia – ahcorreia@isa.ulisboa.pt