Os desafios da gestão florestal participativa

A realização do plano de gestão florestal de uma Zona de Intervenção Florestal (ZIF) é frequentemente confrontada pela necessidade de integrar preferências e interesses contrastantes de várias partes interessadas (proprietários e gestores florestais, agentes de mercado, administração pública e sociedade civil).

A participação das várias partes interessadas na sua elaboração é uma forma de enfrentar este desafio. Mas qual é a melhor maneira de reunir as várias opiniões, interesses e exigências?

Vale de Sousa. Zona de Intervenção Florestal abordada neste estudo (Marlene Marques)

Os workshops participativos podem, através da interacção social, promover a troca de opiniões e conhecimentos entre as várias partes interessadas e facilitar o desenvolvimento de um plano colaborativo. No entanto, há pouca experiência de avaliação formal do impacto deste tipo de workshops.

Neste artigo, publicado recentemente na revista “Trees, Forests and People” a equipa de investigadores, liderada pela investigadora CEF, Marlene Marques, aborda esta lacuna.

Utilizando o trabalho que tem sido desenvolvido na ZIF do Vale do Sousa, no Noroeste de Portugal, a equipa de investigadores organizou um workshop, reuniu os diferentes intervenientes, e desenvolveu questionários para quantificar as preferências das partes interessadas por modelos de gestão florestal, opções de gestão pós-fogo, funções dos espaços florestais, e serviços de ecossistema. Pretendeu-se também avaliar o impacto das discussões participativas na opinião dos diferentes intervenientes; e avaliar o efeito da interacção social na sua aprendizagem e conhecimento.

Partes interessadas da ZIF do Vale do Sousa no workshop colaborativo (Carlos Caldas)

Os resultados sugerem que o workshop e as discussões participativas contribuem para o conhecimento social e para a aprendizagem sobre alternativas de gestão florestal.

Durante as discussões participativas, as partes interessadas expressaram o seu interesse na silvicultura multifuncional.
As conclusões sugerem que há espaço para melhorar o planeamento da gestão florestal através da promoção de planos de gestão florestal colaborativa que podem contribuir para a diversificação dos modelos de gestão existentes e da oferta de serviços de ecossistema e ainda contribuir para reduzir conflitos de interesse.

Artigo completo: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2666719320300261?via%3Dihub

Marlene Marques, Manuela Oliveira, José G. Borges. An approach to assess actors’ preferences and social learning to enhance participatory forest management planning. Trees, Forests and People. 2020; Volume 2, December 2020, 100026. https://doi.org/10.1016/j.tfp.2020.100026