Investigador CEF recebe prémio APRH

Rui Rivaes, Investigador do Grupo ForProtect, recebeu Prémio bianual da APRH pela sua tese de doutoramento

Rui Rivaes, natural de Setúbal, iniciou o seu percurso académico no Instituto Superiro de Agronomia em 1998 com a Licenciatura em Engenharia Florestal e Gestão dos Recursos Naturais, seguindo depois para o Mestrado em Gestão e Conservação dos Recursos Naturais. Após uma passagem pelo sector florestal associativo iniciou o Doutoramento em Restauro e Gestão Fluviais, que finalizou em dezembro de 2018, quando entregou a sua tese.
O tema que levou à tese de doutoramento começou a desenhar-se quando integrou, durante o Mestrado, o projeto RIPFLOW – Riparian vegetation modeling for the assessment of environmental flow regimes and climate change impacts within the Water Framework Directive, liderado pela Prof. Teresa Ferreira.

Este era um projeto internacional com parceiros austríacos e espanhóis cujo objetivo consistia no desenvolvimento e teste de um modelo de vegetação ripária (vegetação ribeirinha que cresce nas margens de sistemas de água doce e suas zonas envolventes sujeitas a inundação frequente) que fosse capaz de prever a sua distribuição espaciotemporal em função do regime hidrológico do rio (variação do volume de água que corre no rio e que se repete regularmente no tempo e no espaço).

Foi neste âmbito que começou a trabalhar com o modelo CASiMiR-vegetation.
O trabalho que consistia em testar e validar este modelo em diferentes circunstâncias de regime hidrológico, e em diferentes países, para avaliar a sua qualidade preditiva, deu então origem ao tema de estudo da sua tese de doutoramento: Investigar a resposta da vegetação ripária a diferentes cenários de regime hidrológico, bem como as suas interações com os processos fluviais para uma melhor gestão e conservação dos rios, tentando perceber não só como a dinâmica da vegetação ripária depende do regime hidrológico, mas também que soluções podiam ser criadas para melhorar e recuperar a vegetação ripária em troços de rios regularizados por barragens, nomeadamente através do controlo das descargas das barragens, se poderia otimizar ou melhorar a condição ecológica da vegetação ripária.
Investigação que levou depois ao levantamento de outras questões, como por exemplo: “Se melhorarmos a condição ripária, o que é que acontece aos outros elementos biológicos (peixes, por exemplo) existentes nos rios? Ou, se só focarmos a soluções de restauro fluvial em elementos biológicos aquáticos e não pensarmos na vegetação ripária, qual é o efeito que a degradação da vegetação ripária tem nesses próprios elementos biológicos?”

Os dados de campo começaram a ser recolhidos em 2010 e decorreram até 2017. Primeiro na Ribeira de Odelouca, depois a jusante da Barragem do Monte da Rocha e posteriormente em mais 5 locais de estudo no rio Tejo e seus afluentes.

As principais conclusões da tese passam pela demonstração da ameaça acrescida a que o ecossistema ripário mediterrânico está sujeito face a cenários de alteração climática. No futuro, em clima Mediterrânico vão haver secas acrescidas e fenómenos de cheia mais intensos, o que faz com que a vegetação ripária aqui existente esteja sujeita a secas mais prolongadas e mais drásticas no Verão, enquanto a perturbação morfodinâmica das cheias de inverno será também muito mais intensa, que em outros regimes hidrológicos existentes na Europa.

Isto faz com que a vegetação ripária em clima mediterrânico vá, expectavelmente, apresentar modificações mais drásticas para os cenários de alteração climática considerados, do que a vegetação ripária existente em outros cursos de água europeus com regimes hidrológicos diferentes.

As conclusões passam também por revelar as especificidades ecológicas da vegetação ripária em sistemas mediterrânicos relativamente ao conhecimento científico geral sobre o tema, e ainda o papel preponderante deste elemento biológico na qualidade ecológica do sistema fluvial em geral.

Para o investigador, o prémio da Associação Portuguesa de Recursos Hídricos (APRH) é uma confirmação de que se está a investigar na direção certa: “Significa, essencialmente, que se fez um bom trabalho. A tese ao ser analisada e reconhecida por um grupo de especialistas, dá-nos alento, enquanto investigadores, para continuar a trabalhar. Muitas vezes os trabalhos de investigação não são facilmente postos em prática ou poucas pessoas poderão vir a ter conhecimento desse trabalho. Durante o processo pensamos se o trabalho que estamos a fazer vai ter alguma utilidade de futuro. Ao ser analisado por um júri composto por especialistas da área, que consideraram esta tese como tendo as características necessárias para ser premiada faz-nos pensar que vale a pena continuar, que os estudos que estamos a realizar estão no caminho certo e que estamos ajustados em relação ao que consideram correto e importante investigar.”

Leia aqui a Tese de Rui Rivaes:
www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/17516/1/Rivaes_PhD.pdf