Onde é que os incêndios florestais destroem edifícios em relação à Interface Urbano-Rural e programas de sensibilização

A investigadora do CEF, Patrícia Alexandre, é uma das autoras de um estudo norte-americano que foi agora publicado sobre os programas de sensibilização e sobre a destruição dos edifícios provocada pelos incêndios florestais na Interface Urbano-Rural (zona onde edifícios e vegetação se encontram).

De acordo com este estudo feito nos Estados Unidos, os proprietários que vivem em zonas susceptíveis de arder podem minimizar o risco da sua casa ser destruída pelas chamas através da alteração das características do próprio edifício e da vegetação em redor. Segundo os autores, naquele país estas acções raramente são obrigatórias. Em alternativa, esforços voluntários são promovidos através de programas de sensibilização nacionais, programas e acções de governos locais e corporações de bombeiros. Estes diferentes programas muitas vezes complementam-se. Porém, não é claro quando e onde estes programas estão em funcionamento e se esse facto tem influência nos resultados após incêndios, que foi o que o artigo analisou.

Ainda de acordo com o estudo, edifícios em zonas onde foram realizadas acções de mitigação/diminuição do risco de incêndio (ex: limpeza/redução do combustível na envolvente das casas, utilização de materiais de construção mais resistentes aos fogos, informação sobre o que saber o que fazer em caso de incêndio), tiveram uma menor probabilidade de arder quando o incêndio por lá passou.

Os autores defendem, por isso a criação comunidades resistentes e resilientes ao fogo e não “à prova de fogo”, o que é inviável. Deve-se compreender que o fogo faz parte da dinâmica natural da vegetação e que há que aprender a viver com o fogo em vez de tentar eliminá-lo. Comunidades resistentes/resilientes são comunidades que apesar da ocorrência do incêndio, sobrevivem com poucos ou nenhuns danos, como mostra a imagem acima.

Ou seja, as chamas passam, mas a casa fica intacta e as pessoas sobrevivem. A ideia de que se vai eliminar o fogo da paisagem é incorrecta. A atitude correcta é: o fogo é uma realidade, vamos aprender a viver com ele. E isto incluí saber fazer uso dele nas alturas certas (queimadas de pastagens e de resíduos agrícolas, lançamento de foguetes, fogo controlado e até ter atenção às beatas dos cigarros), mas também saber reduzir os combustíveis ao redor das propriedades e ter florestas bem geridas.  

O estudo “Where wildfires destroy buildings in the US relative to the wildland–urban interface and national fire outreach programs”, foi publicado no International Journal of Wildland Fire, http://www.publish.csiro.au/wf/WF17135.

Resumo do artigo:
Nos últimos 30 anos nos Estados Unidos, o custo de combater incêndios juntamente com as casas destruídas pelos incêndios, tem aumentado dramaticamente devido em parte à expansão da Interface Urbano-Rural (zona onde edifícios e vegetação se encontram). Em resposta a esta situação, a comunidade que gere o fogo tem dedicado um esforço substancial a aumentar o conhecimento e compreensão de onde é que esta interface ocorre. Tem vindo também a estabelecer programas de sensibilização para reduzir os danos causados pelos incêndios.

Os investigadores descobriram que a maioria dos edifícios ameaçados ou destruídos nos Estados Unidos se encontram na Interface (59 e 69% respectivamente), embora exista uma enorme variedade consoante o estado. Edifícios mais perto de comunidades que aderiram a programas de prevenção e preparação, são menos afectados que edifícios que se encontram a maiores distâncias. Incêndios onde houve uma maior destruição de edifícios encontravam-se mais próximos de locais que aderiram aos programas de preparação, mas, para 76% dos edifícios destruídos, estes programas foram iniciados após o fogo. Em locais que são novos para a interface ou onde está previsto que o regime do fogo se vá alterar, o estabelecimento de programas de sensibilização antes de um grande incêndio ocorrer, poderá aumentar a probabilidade de sobrevivência dos edifícios e reduzir o custo humano e económico que advém da perda de infraestruturas.