Estudo de 98 madeiras tropicais identifica alternativas a madeiras comerciais de elevado valor

Existe uma extraordinária diversidade de cor nas madeiras tropicais e a cor é uma das características mais destacada.

A cor é, também, utilizada na identificação de madeiras e associada a uma componente estética de maior interesse para o consumidor e para a sua valorização no comércio, sendo este um dos principais motivos para estudar a cor da madeira por espécie.

As investigadoras do CEF, Fernanda Bessa, Vicelina Sousa, Teresa Quilhó e Helena Pereira, estudaram amostras de madeira de 98 espécies tropicais, provenientes de Timor-Leste, Índia (Goa) e Moçambique.

Essas amostras fazem parte das coleções das xilotecas do CEF/ISA (LISFLw) e do Jardim Botânico Tropical (LISJCw), ambas pertencentes à Universidade de Lisboa em Portugal e da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) de Maputo em Moçambique. 

Os diferentes parâmetros da cor, como a intensidade, a tonalidade, a saturação e as componentes azul/amarela e verde/vermelha foram determinados através do sistema CIELab.

Este sistema permitiu analisar a variabilidade da cor e foi depois estudado o impacto de características anatómicas, como a dimensão dos raios e das fibras, e de propriedades físicas, como a anisotropia, a retracção e a densidade da madeira na cor.

Verificou-se que a variabilidade da cor nestas espécies tropicais está essencialmente correlacionada com a densidade da madeira, enquanto a influência das características anatómicas foi relativamente discreta.

No entanto, a proporção de tecido fibroso e a largura das fibras foram ainda características anatómicas realçadas. 

Resultados

Os resultados confirmam que a cor medida, com grande exactidão neste sistema desenvolvido para reproduzir a perceção visual humana, pode, contudo, não corresponder à descrição feita apenas de forma subjetiva. 

Por exemplo, o preto corresponde ao valor zero para a intensidade da cor, mas uma madeira que apresente valores abaixo de 50 já é considerada visualmente uma madeira escura, representando os ébanos (Diospyros spp.) e a madeira de pau-preto (Dalbergia melanoxylon) as madeiras tropicais mais escuras, quase pretas (valores de 24-26). 

Neste estudo as madeiras apresentaram cores relativamente claras e tonalidades comparáveis a outras madeiras tropicais com origens geográficas diferentes, como, por exemplo, da Amazónia e da Guiana Francesa, nomeadamente com menos tons amarelos relativamente àquelas da Guiana Francesa.

Contudo, foram encontradas diferentes correlações entre os parâmetros da cor, ou seja, madeiras com propriedades e características semelhantes apresentaram parâmetros de cor diferentes.

Entre as madeiras mais escuras encontraram-se a madeira de cor violácea da Dalbergia sissoo (nome comum: sissó) da Índia e a madeira de cor quase preta da Dalbergia melanoxylon de Moçambique. 

Foi possível evidenciar a possibilidade da utilização da madeira de cor castanho-avermelhada da Swartzia madagascariensis (nome comum: pau-ferro) e da madeira de cor castanha da Millettia stuhlmannii (nome comum: jambirre), ambas de Moçambique, como madeiras alternativas à madeira da Dalbergia melanoxylon, uma espécie considerada ameaçada pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES). A madeira da Dalbergia melanoxylon é uma das madeiras de maior valor comercial, sendo utilizada em mobiliário, esculturas e principalmente instrumentos musicais.

Em geral, a diversidade de cor encontrada nestas 98 espécies tropicais, que incluiu espécies menos comercializadas, pode contribuir para diminuir a sobrexploração e o risco de tráfico ilegal de algumas espécies tropicais. 

O estudo completo foi publicado pela revista IAWA, da editora Brill, com o título ‘Diversity of wood colour in tropical timber species and its relationship with wood density and anatomical features’ e está disponível aqui.