Pinheiro Manso e Pinhão – Mais conhecimento, melhor gestão

Apresentação

No passado dia 30 de Outubro de 2019 decorreu mais um seminário dedicado à divulgação dos resultados de investigação do Centro de Estudos Florestais cujo tema foi: “O Pinheiro Manso e o pinhão: mais conhecimento, melhor gestão”. Contou com a presença de mais de 100 participantes, desde proprietários florestais, industriais, gestores no terreno e empresas ligadas aos vários sectores de actividade da fileira, bem como investigadores e alunos.

Os temas abordados nas sessões focaram-se no ciclo de reprodução da pinha, nas opções de gestão para aumentar a produção (nomeadamente rega e fertilização), metodologias de avaliação da qualidade da madeira e rendimento em pinhão e também nas pragas e doenças que afectam o pinheiro manso em Portugal. O espaço para intervenções e discussão foi particularmente importante, tendo sido possível avaliar as principais preocupações dos agentes da fileira.

O conhecimento resultante da investigação que se faz sobre o pinheiro manso é indispensável para que a gestão florestal ou do negócio seja consciente, justa e rentável.

Este é o 2.º seminário organizado pelo CEF subordinado ao tema do Pinheiro manso. Contamos organizar o próximo em 2021 fazendo uma nova atualização do conhecimento da investigação nesta espécie. Envie-nos os temas que gostaria que fossem abordados numa nova sessão para alexandrac@isa.ulisboa.pt

Programa
Oradores e Apresentações

Crescimento e reprodução: o que se sabe e o que falta saber?
Alexandra Correia

Efeitos da adição de água e nutrientes no crescimento e produção de pinha num povoamento de pinheiro manso enxertado
João Silva

Avanços no conhecimento do sugador de pinhas em Portugal
Ana Farinha

Peso da pinha e rendimento em pinhão: efeito da competição
Alexandra Nunes

Variação radial da composição química da madeira em pinheiro manso
Ana Alves

Drones e fotogrametria – Contribuições para o estudo e gestão do pinheiro manso
Alexandre Sarmento

Estado de fertilidade dos solos de povoamento de pinheiro manso
Maria Encarnação Marcelo

Pragas que afetam a produção de pinhão: incidência, monitorização e controlo
Manuela Branco

Conclusões

Principais conclusões

  • O pinheiro manso necessita de 4 anos para completar o seu ciclo de reprodução, um dos ciclos mais longos e complexos da família dos pinheiros. A pinha está por isso exposta, durante um longo período de tempo, a eventos meteorológicos extremos e à acção de pragas, que podem afectar grandemente o processo de maturação da pinha. Assim, anos desfavoráveis do ponto de vista hidrológico dão origem a baixa produção de flores femininas e, consequentemente, a uma baixa produção de pinha 3 anos depois. Os anos de safra são eventos de elevado consumo de recursos nutricionais para a árvore sendo esperado um período entre 3 a 5 anos de recuperação até que nova safra aconteça. Existem árvores sistematicamente mais produtivas do que outras, uma característica, provavelmente, associada a factores genéticos, e é nessas que o proprietário deve concentrar a sua atenção, cuidando e garantindo que essas árvores se mantêm no sistema.
  • Não parecem haver efeitos significativos da fertirrega na produção de flor feminina e, consequentemente, de pinha mas a percentagem de árvores a produzir pinha em povoamentos fertirrigados é maior. A água e nutrientes são fundamentais para garantir o bom estado vegetativo das árvores, condição necessária para que haja produção. Sendo a água um recurso cada vez mais escasso, a sua utilização em contexto florestal deverá ser equacionada apenas em casos muito particulares. É necessário dar continuidade aos actuais ensaios experimentais, perceber as dotações mais adequadas e ajustadas para a espécie e que não provoquem desequilíbrios no ecossistema, nomeadamente na manutenção dos lençóis freáticos.
  • Os solos onde o pinheiro manso vegeta em Portugal são naturalmente pobres em matéria orgânica, com reação ácida, pobres em fósforo, zinco, cobre e boro extraíveis e com baixa capacidade para reter nutrientes na forma catiónica, nomeadamente o cálcio e o magnésio. As árvores crescem, por isso, num limiar ecológico de risco, onde a fertilização racional poderá ter um papel importante, sobretudo na vitalidade das árvores e, eventualmente, na produção de pinha e de pinhão. As análises ao solo são fundamentais para poder recomendar, caso a caso, uma dotação racional.
  • O sugador de pinhas continua a suscitar muita preocupação e curiosidade. Contudo, é de salientar que a monitorização realizada nos últimos anos revela um aumento de incidência de dano duma outra praga já existente no nosso território há muito tempo – a Dioryctria, uma lagarta que se alimenta da pinha e do pinhão. A prioridade é conseguir monitorizar estas pragas, avaliar níveis de intensidade populacionais, e encontrar métodos de controlo. Este passo é fundamental antes da decisão da aplicação de qualquer tratamento.
  • Novas tecnologias de aquisição de imagens recorrendo a drones têm sido testadas em Pinheiro manso, sendo hoje possível avaliar características do povoamento, como a densidade de árvores, vitalidade das copas, altura e área de projeção de copas em pinheiros mansos recorrendo a esta metodologia. Os drones são ferramentas incontornáveis no apoio à gestão das florestas, quer pela rapidez de aquisição de dados precisos e actualizados, quer pela facilidade de acesso a locais remotos.
  • A densidade de árvores é uma variável muito importante na produção de pinha. Verificou-se, numa herdade em Pegões que, não só a produção de pinha mas também o rendimento, parece ser afectado pela densidade de árvores. A percentagem de pinhão chocho foi significativamente superior nas parcelas com maior competição e sobretudo nas pinhas com danos provocados por insectos. Nestas, o rendimento médio foi de 1% enquanto nas pinhas sãs foi de 2.3%. O agente biótico predominante nas pinhas foi a Dyorictria, não sendo visível sinais de dano provocado pelo Leptoglossus no pinhão aberto.
  • O rendimento em pinhão branco continua a suscitar grande preocupação no sector uma vez que é a variável que define o preço de venda da pinha em cada ano. Uma metodologia fiável, expedita e generalizada para estimar o rendimento em pinhão poderá passar pelo uso de Raio X. A análise custo-benefício da amostragem da qualidade da pinha poderá traduzir-se no aumento do retorno financeiro para os produtores aquando da comercialização da pinha com melhores rendimentos. Verificou-se ainda que a espectroscopia de infravermelho poderá ser utilizada na avaliação da qualidade do pinhão.

Inquérito aos Participantes

Os participantes deste seminário (cerca de 40% produtores, 25% de associações e empresas do sector florestal, 20% investigadores, 10% de industriais), indicaram as alterações climáticas como a principal ameaça à produção de pinha de pinheiro manso (44% das respostas) seguido pela ausência de gestão e a presença de pragas, ambas com cerca de 20% das respostas cada uma. Quando inquiridos sobre quais os principais problemas da fileira, os participantes indicaram a ausência de conhecimento sobre a gestão de povoamentos (36% das respostas) como o principal problema, seguido pela falta de transparência no comércio da pinha (21%). Por último, foram sugeridos como prioridades de investigação para o pinheiro manso, os estudos de melhoramento genético (26%) e de instalação e condução de povoamentos (20%).

Organização

Alexandra Correia 
(alexandrac@isa.ulisboa.pt)

Ana Farinha
Isabel Baptista
Rita Almeida
Teresa Sampaio

Com o apoio de:

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